Hoje, não vou postar nada meu, mas sim, de um poeta que eu adoro. Nasceu a 18 de Fevereiro de 1899, em Vila Real de Santo António, tendo morrido, vítima de tuberculose, a 16 de Novembro de 1949, em Loulé. Foi guardador de cabras, cantor popular, soldado, polícia, tecelão, servente de pedreiro em França, «poeta cauteleiro». Percorria as feiras improvisando à guitarra ou vendendo folhas avulsas em quadras e glosas. Integra-se na mais pura tradição dos poetas e cantores populares portugueses. Ele próprio defenia-se assim:
Fui polícia, fui soldado
Estive fora da nação
Vendo jogo. guardei gado
Só me falta ser ladrão.
Outras quadras do poeta, que o imortalizaram, algumas com sátira.
Quem prende a água que corre
É por si próprio enganado
O ribeirinho não morre
Vai correr por outro lado.
Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço,
Que, não parecendo o que são,
São aquilo que eu pareço.
Embora os meus olhos sejam
Os mais pequenos do mundo,
O que importa é que eles vejam
O que os homens são no fundo.
Eu não tenho vistas largas,
Nem grande sabedoria,
Mas dão-me as horas amargas
Lições de filosofia.
Uma mosca sem valor
Pousa co'a mesma alegria
Na careca de um doutor
Como em qualquer porcaria.
Sou um dos membros malditos
Dessa falsa sociedade
Que, baseada nos mitos,
Pode roubar à vontade.
Finges não ver a verdade,
Porque, afinal, tu compreendes
Que, atrás dessa ingenuidade,
Tens tudo quanto pretendes.
Há tantos burros mandando
Em homens de inteligência,
Que ás vezes fico pensando
Que a burrice é uma ciência.
Nós não devemos cantar
A um deus cheio de encantos
Que se deixa utilizar
P'ra bem duns e mal de tantos.
Veste bem já reparaste
Mas ele próprio ignora
Que por dentro é um contraste
Com o que mostra por fora.
Eu não sei porque razão
Certos homens, a meu ver,
Quanto mais pequenos são
Maiores querem parecer.